Polêmica: Um debate com o Movimento Revolucionário sobre a política a ser
levada contra a burocracia sindical e o PSTU

Em poucas palavras, apenas para situar o leitor, o Sintect-VP era o último sindicato formado por uma maioria de militantes do PSTU. Dizemos “era” porque as eleições revelaram a total fraqueza do PSTU, o que deu lugar a uma oposição que saiu de dentro da própria diretoria do sindicato e que teve cerca de 41% dos votos numa eleição completamente controlada pela chapa 1, apoiada pela empresa. O resultado para a chapa 2 só não foi melhor devido à vacilação dos companheiros de oposição em romper definitivamente com a política do PSTU, o divisionismo da Conlutas e da FNTC (conhecida como federação anã).
PSTU em estado vegetativo nos Correios
O rompimento e a formação da oposição é expressão da fraqueza do PSTU entre os trabalhadores. Essa fraqueza é produto direto da política direitista, pelega, traidora e burocrática desse partido dentro dos Correios e no movimento operário geral e da tendência de luta dos trabalhadores, que estão rompendo com a burocracia.
O MR não entende assim. Para ele, o principal motivo pelo qual as duas chapas não se unificaram no Vale do Paraíba, mesmo sendo as duas supostamente chapas da Conlutas e da FNTC, é que “nos últimos anos o PSTU e a própria Conlutas estão claramente mudando sua linha política, em nome do diálogo com setores inimigos dos trabalhadores, na lógica de que é importante estar no aparato a qualquer custo, o PSTU é capaz de proezas, como a mais lamentável delas que foi ter formado uma chapa com a Articulação Sindical (corrente inimiga dos trabalhadores) para as eleições em São Paulo no meio da luta contra o acordo bianual. Sua política vacilante em relação a Fentect, o que fez com que a FNTC perdesse boa parte da sua base e aliados políticos.”
Parte à parte, vamos aos argumentos: o MR acredita que o PSTU está “mudando sua linha política”. Mas qual seria essa “linha política”? Veremos mais à frente o que pensam os MR, por enquanto nos limitaremos a dizer que o PSTU de hoje, em termos políticos, não sofreu nenhuma mudança fundamental.
O PSTU, desde os primórdios é o braço esquerdo da burocracia sindical. O PSTU é o responsável, por exemplo, pelo ingresso do PCdoB na CUT no final dos anos 80. Nos Correios, não precisa muito esforço, o PSTU sempre cumpriu o papel de auxiliar da burocracia sindical do PT e do PCdoB. A lista é vasta, mas basta algumas das principais traições para provar qual é o papel do PSTU: o banco de horas da greve de 2008 foi assinado pelo PSTU, o PCCS 2008 da escravidão foi assinado pelo PSTU. O PSTU esteve ainda como o principal cúmplice do PT e do PCdoB na compensação da greve de 2011, primeiro ajudando a enterrar a greve, depois aceitando a imposição do TST que levou a categoria à escravidão.
Essa é a política do PSTU nos Correios, apenas para citar os casos recentes, mas
poderíamos falar que o PSTU esteve à frente da Fentect por vários anos, sendo o responsável por inúmeras traições aos trabalhadores, como por exemplo a mudança na data-base da categoria de dezembro para agosto.
Os MR querem uma espécie de “retorno à pureza” do PSTU, ainda que não fique claro que “pureza” seria essa. A única certeza que temos é que se existe alguma pureza, o PSTU nunca se banhou dessa água.
Em política não há pureza, nem bem e mal. O que há é apenas a luta por interesses, que no nosso caso é a busca pelo interesse da classe operária, o que implica numa guerra de vida ou morte contra a burguesia. Esclarecido isso, vamos aos fatos e argumentos.
Segundo os MR, uma das “impurezas” do PSTU seria buscar o “diálogo com setores inimigos dos trabalhadores” e que o mais “lamentável” exemplo disso foi a chapa feita pelo PSTU com a Articulação Sindical de José Rivaldo “Talibã” nas eleições de São Paulo em 2010. Apenas para situar, essa aliança foi duramente criticado pelo PCO, que na época se recusou a fazer tal chapa e montou uma de oposição. Mas qual seria o conteúdo dessa crítica? Na sua crença religiosa de que o PSTU traz no fundo do seu coração uma chama “pura” que está se apagando, o MR não consegue compreender o fundo do problema da aliança entre “Talibã” e PSTU.
O critério moral dos MR os impede de analisar claramente a situação. A política revolucionária, que é a que interessa nesse momento, não recusa o diálogo. Se fosse assim, Lênin e Trótski não poderiam, em hipótese nenhuma, fazer o acordo de Brest-Litovski. Nesse episódio muito conhecido da história, os revolucionários bolcheviques, recém vitoriosos na revolução, “dialogaram” com parte das principais potências imperialistas para obter um tratado de paz para o povo russo. Notemos que o tratado em questão não foi feito com um partido de esquerda oportunista, vendido, traidor e capacho do imperialismo como é o caso do PT. O acordo dos bolcheviques foi feito com o próprio imperialismo, diretamente. Existe maior exemplo do que um “diálogo com inimigos dos trabalhadores”? De acordo com o princípio moral dos MR, Lênin e Trotski seriam piores do que o PSTU. Um raciocínio perigoso que serve à mais completa confusão política.
O caráter da chapa Conlutas-Talibã em São Paulo
Qual seria então o problema da aliança que ficou conhecida na época como “Conlutas-Talibã”? Na ocasião, a quem serviu a aliança? O problema deve ser visto do ponto de vista do interesse dos trabalhadores.
- A chapa Conlutas-Talibã serviu para dar um sobrevida ao próprio Talibã e à Articulação. O acordo bianual era ainda recente e Talibã era, e é ainda hoje, identificado, junto com o PCdoB, como o principal expoente dessa traição. Ao invés de aprofundar a experiência da categoria com a burocracia sindical, o PSTU preferiu confundir o panorama político, inclusive colocando Talibã na candidatura de secretário de Finanças da chapa. Dessa maneira, a chapa se apresentou como de “oposição” com o cínico slogan de “acordo bianual nunca mais” e isolou a oposição combativa, obrigando os companheiros da corrente Ecetistas em Luta (PCO) e simpatizantes a fazer uma chapa independente. Na ocasião, os próprios companheiros do MR declaram apoio à chapa de Ecetistas em Luta.
- A chapa Conlutas-Talibã serviu para destruir o Bloco dos 17 sindicatos contra o Acordo Bianual. O bloco, que havia sido formado após a campanha salarial de 2009, entre os 17 sindicatos que haviam rejeitado o golpe do acordo bianual, foi a primeira experiência de um bloco oposicionista para lutar contra a burocracia. O PSTU, ao mesmo tempo que tentava impor a política divisionista dentro do bloco (o que não unificava os diversos integrantes da frente), com um discurso vazio contra a burocracia, se aliava ao maior inimigo do bloco. Não havia mais base para uma frente de luta, na medida em que a política do PSTU se mostrava completamente contra a luta que deveria unificar o bloco.
- A chapa Conlutas-Talibã serviu também para dar uma sobrevida ao PCdoB/CTB. Na medida em que ficou inviabilizada uma chapa unificada de oposição, com um programa de luta contra a burocracia, a chapa do PCdoB se fortaleceu. Mais precisamente, a chapa Conlutas-Talibã foi um acordo entre a burocracia para salvar o PCdoB no Sintect-SP, o que ficou ainda mais claro pela atitude completamente amigável entre as duas chapas durante a eleição, sem nenhuma denúncia sobre o processo eleitoral, por exemplo.
O significado da vitória da oposição na Fentect
Os setores que ainda insistem na Federação Anã, como é o caso dos MR, são impelidos a uma política pérfida, procurando mostrar que nada mudou na Fentect. O que é uma adaptação invertida da realidade numa tentativa de encaixar determinada política. Ou seja, é um malabarismo político que funciona da seguinte maneira: primeiro, procuraram provar que a burocracia havia dominado completamente a Fentect e que sua mudança seria impossível. Mas esse argumento foi para o ralo, na medida em que foi formado o bloco de oposição e a burocracia foi efetivamente derrotada. A atual etapa da manobra é a seguinte: procuram dizer que o bloco de oposição não significa nada e que a burocracia ainda tem o domínio político na federação, já que o Talibã está na
secretaria de finanças e a diferença é de apenas um voto.
É um argumento que só pode ser elaborado por uma criança. A política não é o que gostaríamos que ela fosse, mas o que efetivamente é. Primeiro, de maneira completamente mal-intencionada, escondem que a presença de Talibã é resultado justamente da diferença apertada de votos e que por isso o bloco traidor obteve a secretaria de finanças, enquanto que o movimento de oposição ficou com o primeiro cargo (secretaria geral). Segundo, procuram esconder o óbvio de que, ainda que não se tenha transformado totalmente a federação, a mudança é inegável. Se antes a burocracia dominava cerca de 70% da diretoria, agora é minoria.
O que é mais importante de tudo é que a vitória do bloco de oposição e sua própria formação é produto da pressão da categoria contra a burocracia. A força da oposição, não importa com que cara ela apareça, é a expressão direta da luta que foi travada nas últimas greves e a falência total da burocracia sindical que foi atropelada pelos trabalhadores.
O que fez a FNTC “perder seus aliados”?
Os MR acreditam que a Federação Anã (FNTC) perdeu a sua mirrada base e seus aliados porque o PSTU está “mudando sua linha política” e leva uma “política vacilante em relação à Fentect”. O que o MR quer dizer com isso é que o problema do PSTU é devido ao fato de não ter levado a sério a política divisionista de ruptura com a Fentect e a CUT.
Só pelo histórico do PSTU no movimento dos Correios já é possível verificar que tal argumento não corresponde minimamente à realidade. Ainda que levássemos em consideração (o que é uma aberração) que a política divisionista fosse correta, a explicação fundamental para a crise do PSTU e da Conlutas é sua política burocrática, que sempre funcionou como um braço esquerdo da burocracia sindical. Grosso modo, se passarmos um removedor de verniz no PSTU, o que vai sobrar é um conteúdo político idêntico ou muito semelhante ao do PT e PCdoB. Portanto, a única conclusão correta é a de que a crise do PSTU/Conlutas é a mesma crise de toda a burocracia.
Mas entremos no argumento dos MR de que o problema do PSTU é não levar a sério a política de ruptura. A realidade aí se encontra totalmente invertida na cabeça dos MR. A crise do PSTU, além de ser resultado de seu direitismo, foi na verdade aprofundada pela política divisionista.
O divisionismo foi derrotado na prática pela vitória da oposição na Fentect. Apenas um dogmático e sectário, ou mal intencionado, poderia não levar em conta esse fato. O crescimento da oposição é visível e nesse caso não estamos falando do crescimento do MR ou do PCO, mas de uma frente constituída por setores dos mais diversos, cujo objetivo central é lutar contra a burocracia. Não estamos falando de nada imaculado, que como dissemos não deve ser critério em política, mas de uma frente de luta com suas vacilações, diferentes políticas e até mesmo diferentes níveis de integração à própria burocracia.
Ficou provada a política marxista de que os trabalhadores não devem abandonar as organizações sindicais e criar outras, mas travar uma guerra de vida ou morte contra a burocracia. É isso o que deve continuar acontecendo até que o último traidor esteja fora dos sindicatos e da federação. A política divisionista levada adiante pelo PSTU foi desmascarada.
Outro fator importante para derrubar o divisionismo foi a antecipação do PCdoB/CTB. Quando os sindicatos de São Paulo e Rio de Janeiro saíram da Fentect com os argumentos levantados anteriormente pelo PSTU, ficou claro que tudo não passava de uma farsa. Tudo ficou ainda mais claro quando o PSTU publicou uma nota aplaudindo “todas as rupturas” em apoio ao golpe do PCdoB, nitidamente orquestrado pela direção da ECT.
Por fim, a política divisionista foi desmascarada não só como um política completamente equivocada. Está claro que a ruptura com a Fentect é uma política pelega e traidora, levada adiante pelo PCdoB, a ala direita da burocracia sindical e pelo PSTU, ala esquerda dessa mesma burocracia. Os únicos beneficiados pelo divisionismo são em primeiro lugar o próprio patrão que adora ver os trabalhadores divididos e em segundo lugar a burocracia que adora ver a oposição dividida.
Qualquer trabalhador sabe que a divisão só favorece o patrão. Isso só não é elementar na cabeça dos MR e seus aliados.
Portanto, a crise do PSTU e a falência da FNTC, que sequer chegou a nascer, é produto em primeiro lugar da política pelega e traidora do PSTU que atua e sempre atuou como braço esquerdo do bloco Articulação-PCdoB, e em segundo lugar é produto da falência da política divisionista e não o contrário.
A ruptura com a Fentect defendida pelos MR e seus aliados, como é o caso do MLI (Movimento de Luta Independente) que formava a chapa de oposição no Vale do Paraíba, é o contrário do que eles entendem.
O divisionismo é uma política burocrática e capitalizada pelo PSTU que tem o interesse bem claro de conseguir privilégios criando aparelhos sindicais.
Defender o divisionismo, não importa se por motivos “puros e morais” é simplesmente ficar a reboque do PSTU. O PSTU só será superado se os trabalhadores romperem completa e definitivamente com sua política, mais ainda, lutar contra a burocracia sindical é lutar também contra o PSTU. Na próxima edição, continuaremos o debate com o Movimento Revolucionário, explicando o problema da CUT e da Conlutas e seus desdobramentos.
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