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sábado, 30 de março de 2013

O atual estágio da política divisionista no movimento dos Correios

Polêmica: Um debate com o Movimento Revolucionário sobre a política a ser levada contra a burocracia sindical e o PSTU

A corrente sindical Luta pela Base, composta pelos militantes do MR (Movimento Revolucionário), publicou em seu blog na internet um texto com um balanço das eleições no Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Vale do Paraíba (Sintect-VP), ocorridas no dia 7 de março. Os números oficiais apontaram a vitória da chapa 1, formada pelo PSTU, com 374 votos, contra 258 votos para a chapa 2, formada por companheiros de oposição.

Em poucas palavras, apenas para situar o leitor, o Sintect-VP era o último sindicato formado por uma maioria de militantes do PSTU. Dizemos “era” porque as eleições revelaram a total fraqueza do PSTU, o que deu lugar a uma oposição que saiu de dentro da própria diretoria do sindicato e que teve cerca de 41% dos votos numa eleição completamente controlada pela chapa 1, apoiada pela empresa. O resultado para a chapa 2 só não foi melhor devido à vacilação dos companheiros de oposição em romper definitivamente com a política do PSTU, o divisionismo da Conlutas e da FNTC (conhecida como federação anã).

PSTU em estado vegetativo nos Correios

O rompimento e a formação da oposição é expressão da fraqueza do PSTU entre os trabalhadores. Essa fraqueza é produto direto da política direitista, pelega, traidora e burocrática desse partido dentro dos Correios e no movimento operário geral e da tendência de luta dos trabalhadores, que estão rompendo com a burocracia.

O MR não entende assim. Para ele, o principal motivo pelo qual as duas chapas não se unificaram no Vale do Paraíba, mesmo sendo as duas supostamente chapas da Conlutas e da FNTC, é que “nos últimos anos o PSTU e a própria Conlutas estão claramente mudando sua linha política, em nome do diálogo com setores inimigos dos trabalhadores, na lógica de que é importante estar no aparato a qualquer custo, o PSTU é capaz de proezas, como a mais lamentável delas que foi ter formado uma chapa com a Articulação Sindical (corrente inimiga dos trabalhadores) para as eleições em São Paulo no meio da luta contra o acordo bianual. Sua política vacilante em relação a Fentect, o que fez com que a FNTC perdesse boa parte da sua base e aliados políticos.”

Parte à parte, vamos aos argumentos: o MR acredita que o PSTU está “mudando sua linha política”. Mas qual seria essa “linha política”? Veremos mais à frente o que pensam os MR, por enquanto nos limitaremos a dizer que o PSTU de hoje, em termos políticos, não sofreu nenhuma mudança fundamental.
O PSTU, desde os primórdios é o braço esquerdo da burocracia sindical. O PSTU é o responsável, por exemplo, pelo ingresso do PCdoB na CUT no final dos anos 80. Nos Correios, não precisa muito esforço, o PSTU sempre cumpriu o papel de auxiliar da burocracia sindical do PT e do PCdoB. A lista é vasta, mas basta algumas das principais traições para provar qual é o papel do PSTU: o banco de horas da greve de 2008 foi assinado pelo PSTU, o PCCS 2008 da escravidão foi assinado pelo PSTU. O PSTU esteve ainda como o principal cúmplice do PT e do PCdoB na compensação da greve de 2011, primeiro ajudando a enterrar a greve, depois aceitando a imposição do TST que levou a categoria à escravidão.

Essa é a política do PSTU nos Correios, apenas para citar os casos recentes, mas
poderíamos falar que o PSTU esteve à frente da Fentect por vários anos, sendo o responsável por inúmeras traições aos trabalhadores, como por exemplo a mudança na data-base da categoria de dezembro para agosto.

Os MR querem uma espécie de “retorno à pureza” do PSTU, ainda que não fique claro que “pureza” seria essa. A única certeza que temos é que se existe alguma pureza, o PSTU nunca se banhou dessa água.

Em política não há pureza, nem bem e mal. O que há é apenas a luta por interesses, que no nosso caso é a busca pelo interesse da classe operária, o que implica numa guerra de vida ou morte contra a burguesia. Esclarecido isso, vamos aos fatos e argumentos.

Segundo os MR, uma das “impurezas” do PSTU seria buscar o “diálogo com setores inimigos dos trabalhadores” e que o mais “lamentável” exemplo disso foi a chapa feita pelo PSTU com a Articulação Sindical de José Rivaldo “Talibã” nas eleições de São Paulo em 2010. Apenas para situar, essa aliança foi duramente criticado pelo PCO, que na época se recusou a fazer tal chapa e montou uma de oposição. Mas qual seria o conteúdo dessa crítica? Na sua crença religiosa de que o PSTU traz no fundo do seu coração uma chama “pura” que está se apagando, o MR não consegue compreender o fundo do problema da aliança entre “Talibã” e PSTU.

O critério moral dos MR os impede de analisar claramente a situação. A política revolucionária, que é a que interessa nesse momento, não recusa o diálogo. Se fosse assim, Lênin e Trótski não poderiam, em hipótese nenhuma, fazer o acordo de Brest-Litovski. Nesse episódio muito conhecido da história, os revolucionários bolcheviques, recém vitoriosos na revolução, “dialogaram” com parte das principais potências imperialistas para obter um tratado de paz para o povo russo. Notemos que o tratado em questão não foi feito com um partido de esquerda oportunista, vendido, traidor e capacho do imperialismo como é o caso do PT. O acordo dos bolcheviques foi feito com o próprio imperialismo, diretamente. Existe maior exemplo do que um “diálogo com inimigos dos trabalhadores”? De acordo com o princípio moral dos MR, Lênin e Trotski seriam piores do que o PSTU. Um raciocínio perigoso que serve à mais completa confusão política.

O caráter da chapa Conlutas-Talibã em São Paulo

Qual seria então o problema da aliança que ficou conhecida na época como “Conlutas-Talibã”? Na ocasião, a quem serviu a aliança? O problema deve ser visto do ponto de vista do interesse dos trabalhadores.
  1. A chapa Conlutas-Talibã serviu para dar um sobrevida ao próprio Talibã e à Articulação. O acordo bianual era ainda recente e Talibã era, e é ainda hoje, identificado, junto com o PCdoB, como o principal expoente dessa traição. Ao invés de aprofundar a experiência da categoria com a burocracia sindical, o PSTU preferiu confundir o panorama político, inclusive colocando Talibã na candidatura de secretário de Finanças da chapa. Dessa maneira, a chapa se apresentou como de “oposição” com o cínico slogan de “acordo bianual nunca mais” e isolou a oposição combativa, obrigando os companheiros da corrente Ecetistas em Luta (PCO) e simpatizantes a fazer uma chapa independente. Na ocasião, os próprios companheiros do MR declaram apoio à chapa de Ecetistas em Luta.
  2. A chapa Conlutas-Talibã serviu para destruir o Bloco dos 17 sindicatos contra o Acordo Bianual. O bloco, que havia sido formado após a campanha salarial de 2009, entre os 17 sindicatos que haviam rejeitado o golpe do acordo bianual, foi a primeira experiência de um bloco oposicionista para lutar contra a burocracia. O PSTU, ao mesmo tempo que tentava impor a política divisionista dentro do bloco (o que não unificava os diversos integrantes da frente), com um discurso vazio contra a burocracia, se aliava ao maior inimigo do bloco. Não havia mais base para uma frente de luta, na medida em que a política do PSTU se mostrava completamente contra a luta que deveria unificar o bloco.
  3. A chapa Conlutas-Talibã serviu também para dar uma sobrevida ao PCdoB/CTB. Na medida em que ficou inviabilizada uma chapa unificada de oposição, com um programa de luta contra a burocracia, a chapa do PCdoB se fortaleceu. Mais precisamente, a chapa Conlutas-Talibã foi um acordo entre a burocracia para salvar o PCdoB no Sintect-SP, o que ficou ainda mais claro pela atitude completamente amigável entre as duas chapas durante a eleição, sem nenhuma denúncia sobre o processo eleitoral, por exemplo.
Como fica claro, a aliança entre PSTU e Articulação/PT não é um problema de “diálogo”, mas uma política constante de defesa da burocracia sindical e sua política patronal, contra a organização independente dos trabalhadores.

O significado da vitória da oposição na Fentect

Os setores que ainda insistem na Federação Anã, como é o caso dos MR, são impelidos a uma política pérfida, procurando mostrar que nada mudou na Fentect. O que é uma adaptação invertida da realidade numa tentativa de encaixar determinada política. Ou seja, é um malabarismo político que funciona da seguinte maneira: primeiro, procuraram provar que a burocracia havia dominado completamente a Fentect e que sua mudança seria impossível. Mas esse argumento foi para o ralo, na medida em que foi formado o bloco de oposição e a burocracia foi efetivamente derrotada. A atual etapa da manobra é a seguinte: procuram dizer que o bloco de oposição não significa nada e que a burocracia ainda tem o domínio político na federação, já que o Talibã está na
secretaria de finanças e a diferença é de apenas um voto.

É um argumento que só pode ser elaborado por uma criança. A política não é o que gostaríamos que ela fosse, mas o que efetivamente é. Primeiro, de maneira completamente mal-intencionada, escondem que a presença de Talibã é resultado justamente da diferença apertada de votos e que por isso o bloco traidor obteve a secretaria de finanças, enquanto que o movimento de oposição ficou com o primeiro cargo (secretaria geral). Segundo, procuram esconder o óbvio de que, ainda que não se tenha transformado totalmente a federação, a mudança é inegável. Se antes a burocracia dominava cerca de 70% da diretoria, agora é minoria.

O que é mais importante de tudo é que a vitória do bloco de oposição e sua própria formação é produto da pressão da categoria contra a burocracia. A força da oposição, não importa com que cara ela apareça, é a expressão direta da luta que foi travada nas últimas greves e a falência total da burocracia sindical que foi atropelada pelos trabalhadores.

O que fez a FNTC “perder seus aliados”?

Os MR acreditam que a Federação Anã (FNTC) perdeu a sua mirrada base e seus aliados porque o PSTU está “mudando sua linha política” e leva uma “política vacilante em relação à Fentect”. O que o MR quer dizer com isso é que o problema do PSTU é devido ao fato de não ter levado a sério a política divisionista de ruptura com a Fentect e a CUT.

Só pelo histórico do PSTU no movimento dos Correios já é possível verificar que tal argumento não corresponde minimamente à realidade. Ainda que levássemos em consideração (o que é uma aberração) que a política divisionista fosse correta, a explicação fundamental para a crise do PSTU e da Conlutas é sua política burocrática, que sempre funcionou como um braço esquerdo da burocracia sindical. Grosso modo, se passarmos um removedor de verniz no PSTU, o que vai sobrar é um conteúdo político idêntico ou muito semelhante ao do PT e PCdoB. Portanto, a única conclusão correta é a de que a crise do PSTU/Conlutas é a mesma crise de toda a burocracia.

Mas entremos no argumento dos MR de que o problema do PSTU é não levar a sério a política de ruptura. A realidade aí se encontra totalmente invertida na cabeça dos MR. A crise do PSTU, além de ser resultado de seu direitismo, foi na verdade aprofundada pela política divisionista.

O divisionismo foi derrotado na prática pela vitória da oposição na Fentect. Apenas um dogmático e sectário, ou mal intencionado, poderia não levar em conta esse fato. O crescimento da oposição é visível e nesse caso não estamos falando do crescimento do MR ou do PCO, mas de uma frente constituída por setores dos mais diversos, cujo objetivo central é lutar contra a burocracia. Não estamos falando de nada imaculado, que como dissemos não deve ser critério em política, mas de uma frente de luta com suas vacilações, diferentes políticas e até mesmo diferentes níveis de integração à própria burocracia.

Ficou provada a política marxista de que os trabalhadores não devem abandonar as organizações sindicais e criar outras, mas travar uma guerra de vida ou morte contra a burocracia. É isso o que deve continuar acontecendo até que o último traidor esteja fora dos sindicatos e da federação. A política divisionista levada adiante pelo PSTU foi desmascarada.

Outro fator importante para derrubar o divisionismo foi a antecipação do PCdoB/CTB. Quando os sindicatos de São Paulo e Rio de Janeiro saíram da Fentect com os argumentos levantados anteriormente pelo PSTU, ficou claro que tudo não passava de uma farsa. Tudo ficou ainda mais claro quando o PSTU publicou uma nota aplaudindo “todas as rupturas” em apoio ao golpe do PCdoB, nitidamente orquestrado pela direção da ECT.

Por fim, a política divisionista foi desmascarada não só como um política completamente equivocada. Está claro que a ruptura com a Fentect é uma política pelega e traidora, levada adiante pelo PCdoB, a ala direita da burocracia sindical e pelo PSTU, ala esquerda dessa mesma burocracia. Os únicos beneficiados pelo divisionismo são em primeiro lugar o próprio patrão que adora ver os trabalhadores divididos e em segundo lugar a burocracia que adora ver a oposição dividida.

Qualquer trabalhador sabe que a divisão só favorece o patrão. Isso só não é elementar na cabeça dos MR e seus aliados.

Portanto, a crise do PSTU e a falência da FNTC, que sequer chegou a nascer, é produto em primeiro lugar da política pelega e traidora do PSTU que atua e sempre atuou como braço esquerdo do bloco Articulação-PCdoB, e em segundo lugar é produto da falência da política divisionista e não o contrário.

A ruptura com a Fentect defendida pelos MR e seus aliados, como é o caso do MLI (Movimento de Luta Independente) que formava a chapa de oposição no Vale do Paraíba, é o contrário do que eles entendem.

O divisionismo é uma política burocrática e capitalizada pelo PSTU que tem o interesse bem claro de conseguir privilégios criando aparelhos sindicais.

Defender o divisionismo, não importa se por motivos “puros e morais” é simplesmente ficar a reboque do PSTU. O PSTU só será superado se os trabalhadores romperem completa e definitivamente com sua política, mais ainda, lutar contra a burocracia sindical é lutar também contra o PSTU. Na próxima edição, continuaremos o debate com o Movimento Revolucionário, explicando o problema da CUT e da Conlutas e seus desdobramentos.

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