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sábado, 2 de junho de 2012

Destruir ou conquistar os sindicatos?


Para criar uma frente revolucionária é necessário abandonar os velhos sindicatos, ou, de maneira geral, deles apartar os setores re­vo­­lucioná­rios? Encontraremos a resposta a esta pergunta examinando o papel dos sindicatos antes, durante e depois da guerra.
Os sindicatos operários nasceram como órgãos de autodefesa da classe operária. À medida que as relações capitalistas cresciam e se desenvolviam, à medida que as formas de exploração tornavam-se mais complexas, os sindicatos operários passavam também a formas de organização mais complexas e, na luta contra os exploradores, a uma tática igualmente mais complexa. No passado, cada operário con­frontava-se com capitalistas isolados; mais tarde o operário isolado confrontava-se com o capitalista coletivo; o estágio seguinte do de­­sen­vol­vimento consiste na luta da organização operária contra a organização patronal, e a classe operária agrupada no seio de suas orga­nizações econômicas e políticas luta contra a organização patronal e o Estado burguês.

Cooptação das Organizações operárias pelo Estado

Durante várias décadas, na maioria dos países capitalistas, os sindicatos operários lutaram para melhorar a situação da classe operária, adptando-se, no entanto, ao marco do regime burguês. A guerra pôs a nu, com evidência espantosa, o apego dos meios dirigentes operários com seu capitalismo nacional. Em suma, os sindicatos operários se encontraram na base de toda a política de guerra dos  últimos anos. Para os dirigentes dos sindicatos, o bem-estar da classe operária estava ligado à situação de sua indústria nacional no mercado mundial. Encontramo-nos frente, não só à rivalidade das classes dominantes da Alemanha e Grã-Bretanha, mas também frente à rivalidade dos sindicatos alemães e britânicos, pois cada um dos lados amarrava sua sorte à extensão e à conquista de novos mercados. Po­demos observar um curioso fenômeno: no curso de seu de­sen­volvimento, a classe operária criou organizações de autodefesa contra a burguesia e estas mesmas organizações se converteram, a um certo grau de desenvolvimento, em uma parte integrante do sistema capitalista. As instâncias dirigentes dos sindicatos que se entrelaçaram intimamente com o Estado burguês abordaram todos os problemas do ponto de vista dos interesses nacionais, de tal modo que as organizações operárias que tinham como objetivo a luta contra o Estado burguês transformaram-se na base principal de todo o sistema ca­pi­talista. Esta contradição entre a necessidade essencial da classe operária de ter sua organização separada e a a­pro­ximação das organizações existentes com o aparato capitalista e burguês manifestou-se com particular evidência durante a guerra e o período imediatamente posterior.
Antes da guerra, os sindicatos contavam com cerca de dez mi­lhões de membros no total. Imediatamente depois, a massa operária pe­netrou amplamente nos sindicatos, pois a guerra a havia arrancado de sua situação ordinária. O operário isolado sentia-se impotente, in­de­ciso. A es­tabilidade relativa das relações burguesas havia desa­pa­recido, os fundamentos da sociedade haviam sido comovidos e o ope­rário mais atrasado ingressou, ele também, no sindicato para encontrar uma resposta aos problemas que o atormentavam. Nos países mais importantes, a maioria dos operários já se encontra organizada. O nú­mero dos trabalhadores sindicalizados na Inglaterra já passou os oito milhões; na Alemanha, ultrapassa a cifra de doze milhões (incluídos os sindicatos cristãos e liberais). Na Áustria alemã (seis mi­lhões de ha­bitantes), há perto de um milhão de operários sindicalizados. Na Bélgica, aproximadamente a mesma quantidade. Em uma palavra, ob­servamos um enorme movimento espontâneo da massa operária em direção aos sindicatos, o que amplia, de um golpe, o velho quadro da organização. Nasceram poderosas federações que contavam com mi­lhões de membros e que deveriam constituir a arma principal na luta da classe operária por seus interesses nesse primeiro período, em que o Estado se encontrava debilitado e a luta social se exarcebava, quan­do ninguém sentia-se seguro do amanhã, nessa época de ímpeto revolucionário.
Este primeiro período, de crescimento, acaba ao fim de 1920. O ano de 1921 abre uma etapa de retrocesso das organizações ope­rárias; apesar de tudo, os sindicatos agrupam ainda dezenas de milhões de o­pe­rários organizados em todos os países. Este enorme exército or­ganizado influi sobre todo o mundo capitalista, que está obrigado a levar em conta estas organizações da classe operária.
Os sindicatos operários, que haviam desempenhado um papel tão considerável durante a guerra, deviam ainda desempenhar outro igualmente importante, no pensamento de seus dirigentes, depois do fim da car­nificina internacional. Os vencedores haviam reforçado o papel dos sin­dicatos operários na política contemporânea ao admitir seus di­ri­gen­tes para participar da elaboração de certos artigos do Tratado de Ver­salhes[1] e para intervir, com os mesmos direitos que os patrões na Or­ganização Internacional do Trabalho, dependente da Sociedade das Nações. Esta foi a mais alta recompensa para os sindicatos re­formistas na arena internacional, da política de colaboração levada a cabo em cada país. No quadro nacional, os dirigentes sindicais ten­diam a uma liquidação rápida e pacífica dos resultados da guerra, ao aumento da produção, ao veloz restabelecimento das relações capitalistas normais, oferecendo sua colaboração e não pedindo mais que a pa­ri­dade em toda a espécie de conferência convocada pelo governo. Assim nasceu uma filosofia do direito paritário. Floresceu magnificamente na Alemanha e encontra sua expressão nas decisões da Internacional de Amsterdã, destinadas a estabelecer a paz social. No período de pós-guerra, os sindicatos serviram de base a todo tipo de gabinetes de coalizão; intervieram como força inimiga contra as ações revolucionárias da ala esquerda do movimento operário, entravando a marcha ascendente do movimento revolucionário em todos os países com todo o peso de seu poderoso aparelho.

Teoria da destruição dos sindicatos

Por outra parte, os sindicatos, ao mesmo tempo que obs­ta­cu­lizavam o movimento revolucionário, estavam obrigados a lutar pela melhoria da situação econômica dos operários e defender seu nível de vida por via de acordos ou de greves. Deste modo, no período de pós-guerra, os sindicatos seguiram o caminho das reformas, lutando con­tra a revolução social. Este desempenho anti-revolucionário do núcleo dirigente dos sindicatos provocou uma reação nos meios o­perários de espírito revolucionário. Surgiu a teoria segundo a qual, os sindicatos operários, organizações aliadas ao Es­tado burguês, deveriam ser des­truídos e deviam criar-se no­vos sindicatos em seu lugar. Esta teo­ria ori­ginou-se na A­le­manha, a partir de uma série de derrotas dos operários revolucionários. Nasceu e desenvolveu-se no país onde a bu­rocracia sindical havia esmagado com o maior cinismo os princípios essenciais da luta de clas­ses, onde o sistema paritário havia encontrado sua expressão na Ar­beitsgemeinschaft (comissão paritária de patrões e empregados) e onde a burguesia, depois da revolução de novembro de 1918 reconheceu que os sindicatos operários haviam salvado o Estado (isto é, a pro­priedade) da anarquia e da desagragação. Os operários da esquerda ra­ciocinavam assim: os sindicatos operários são conservadores, sus­tentam o governo, praticam a colaboração de classes, lutam contra o movimento revolucionário e contra a própria idéia da revolução so­cial; portanto, é necessário separarmo-nos deles e formar sindicatos pró­prios, talvez pouco numerosos mas, pelo menos, revolucionários.
Os sindicatos operários são, em sua maioria, conservadores; na hora atual, desempenham um papel contra-revolucionário; encontram-se no terreno da colaboração de classes. Todos  esses fatos não são postos em dúvida, mas esta é uma razão para destruir os sin­di­catos operários? Além disso, o que exatamente quer dizer "destruir os sindicatos operários”? Os sindicatos não estão constituidos só pelas sedes e pelos cofres sindicais; são organizações criadas no curso de vá­rias décadas, que agrupam milhões de operários. Há muitas razões que explicam porque as massas operárias se encontram nestes sin­dicatos conservadores.
Não há dúvida que nos sindicatos está a melhor parte, a mais ativa, a mais consciente da classe operária. Mas esta parte, no entanto, não alcançou um nível suficiente de atividade e de consciência. Não importa, é necessário tomar partido por ela, é necessário tomar a classe operária tal como é. Por que é necessário destruir os sindicatos operários e criar outros, pequenos sindicatos, podendo-se conquistar a massa operária e, por seu intermédio, os sindicatos?
A teoria da destruição dos sindicatos está baseada no pressuposto de que os sindicatos reformistas não são em nada aproveitáveis para os operários. No entanto, esta afirmação é contraditória com os fatos. Se os sindicatos não fossem de nenhum proveito à classe operária, jamais te­riam atraído milhões de trabalhadores. Há muito tempo teriam mor­rido naturalmente. Na realidade observamos fatos diametralmente opostos: não só os operários não se afastam dos sindicatos como tam­bém estes são as únicas organizações que conservaram sua u­nidade, apesar da aguda luta que se desenrolou no interior da classe operária no período do pós-guerra. Não há um só país no mundo onde não haja dois ou três partidos operários em guerra entre si; mas a despeito da diferenciação política, os sindicatos operários continuam unidos e inteiros; os operários de todas as tendências continuam freqüentando os sindicatos e lutando conjuntamente. Deve-se este fato ao acaso? É certo que não. Os velhos sindicatos conservadores, ainda agora, realizam uma tarefa muito importante para o operário: a defesa de seus interesses imediatos contra a investida frenética do capital. Os sindicatos desempenham o papel de um teto comum sob o qual bus­cam refúgio todos os operários em épocas de intempérie social. Os interesses materiais dos operários, a questão dos salários, da jornada de trabalho, do trabalho feminino e infantil, dos seguros etc. agrupam os trabalhadores, forçam-nos a manterem-se unidos em um mesmo sindicato. Voltar as costas aos sindicatos significa, no momento atual, voltar as costas às massas; predicar a destruição dos sindicatos sig­nifica provocar a indignação das amplas massas que vêem nos sindicatos reformistas os defensores de seus interesses materiais i­me­diatos. O dever do revolucionário é estar em todas as partes onde se encontram as massas para traçar no seio de suas organizações uma linha de direção que demonstre diante delas as vantagens da tática revolucionária em relação à tática reformista.

Subestimação das massas e superestimação da burocracia

Se o ponto de vista dos elementos de esquerda acerca da i­nu­tilidade dos sindicatos fosse justo, equivaleria declarar impossível a revolução social, pois a revolução social é irrealizável se essas dezenas de milhões de operários organizados nos sindicatos não tomam parte dela. Podemos sonhar com a revolução, po­rém, fazê-la sem os sindicatos, é impossível. Os últimos meses de luta puseram em relevo todo o mal que pode causar a destruição dos sindicatos. Se nossos camaradas britâncios houvessem adotado este ponto de vista, teriam retirado dos sindicatos todos os elementos revolucionários, teriam feito o mesmo com a federação de mineiros, que protagonizou uma greve de três meses apesar do reformismo de alguns de seus chefes. Aí está o perigo: a teoria da destruição dos sindicatos não só é pessimista em relação à massa operária, como exagera também o peso da burocracia sin­dical. E assim podemos observar situações verdadeiramente gro­tes­cas: os homens que se propõem derrubar o regime capitalista, abater o capitalismo na Grã-Bretanha, França e Estados Unidos, são os mes­mos que duvidam poder destruir a burocracia sindical destes países. Os Gompers[2], os Thomas, os Grassman, os Oudegeest lhes parecem in­vencíveis, enquanto, ao mesmo tempo, não perdem a esperança de vencer os representantes, por excelência, do imperialismo contem­po­râneo.
Esta tática de pessimismo e desespero nada tem em comum com o espírito revolucionário; é o testemunho de um grande nervosismo e de um débil discernimento revolucionário. Por esta razão, tanto a In­ternacional Comunista como a Internacional Sindical Vermelha re­­­chaçam enérgica e categoricamente a palvra-se-ordem de “destruição dos sindicatos”, colocando em seu lugar a de “conquista dos sindicatos”. A experiência do ano passado mostra a  justeza desta tática. Na França, na Itália, na Alemanha, em todos os países, o movimento sindical revolucionário se amplia e cresce. Entretanto, não é poderoso o bastante para derrubar a velha burocracia, mas é suficientemente forte para influir sobre a tática sindical em cada país, para colocar com precisão os problemas que a burocracia sin­dical se esforça em escamotear.
A meta a cumprir é confrontar os dirigentes sindicais com as massas operárias no terreno da luta de todos os dias, para arrancar estas massas da influência de seus chefes conservadores, ideológica e praticamente. Este trabalho desemboca na destruição da influência da burocracia conservadora no interior dos sindicatos e não na destruição dos sindicatos. Preconizamos o ingresso nos sindicatos, não para alinhar-se por trás das reivindicações e princípios reformistas, mas para conquistar as massas e transformar os sindicatos em um instrumento da revolução social, contra seus dirigentes reacionários.
Precisamente porque a reivindicação de destruição dos sindicatos leva a uma ruptura com as massas, a um isolamento dos operários revolucionários, a uma retração do movimento, a uma simples atividade de seita, é que a Internacional Sindical Vermelha proclama estas bandeiras : “estar com as massas! Ingressar nos sindicatos! Este é o único caminho da vitória”!


[1] Tratado de Versalhes — Assinado em 28 de junho de 1919 pelas potências imperialistas vencedoras da I Guerra Mundial — EUA, o Império Britânico, a França, a Itália, Japão e seus aliados —, por um lado, e a Alemanha, por outro. Seu objetivo foi o de fixar a partilha do mundo entre as potências imperialistas que trataram de impor pesadas sanções à Alemanha derrotada: reparações de guerra, ocupação militar da região do Reno, desarmamento do país etc. As condições do tratado somente não foram mais draconianas porque os vencedores recuaram diante do terror à disseminação da revolução proletária, contra a qual procuravam fixar um novo status mundial com a criação da Sociedade das Nações.
[2] Samuel Gompers (1850-1924) — Um dos fundadores e principal dirigente da Federação Americana do Trabalho (AFL); seguiu a política de convivência pacífica e colaboração com a burguesia.

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