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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Entrevista com presidente do Sintect-MG: Pedro Paulo de Abreu Pinheiro

“A categoria tem que ir para cima do TST, para cima da direção da empresa, através da greve cada dia mais forte e garantir a nossa pauta de reivindicações”
 
Entrevista com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de Minas Gerais, Pedro Paulo de Abreu Pinheiro, membro da Coordenação Nacional da Corrente Sindical Nacional Ecetistas em Luta, do PCO, sobre a greve da categoria
Causa Operária: O que está acontecendo nesse momento na Campanha Salarial dos trabalhadores dos Correios?

Pedro Paulo: Depois de todo o impasse da greve do dia 11 de setembro quando só entraram em greve os sindicatos de Minas Gerais (Grande Belo Horizonte) e Pará, nesse momento temos uma greve impulsionada pela base dos trabalhadores contra a burocracia sindical da maioria dos sindicatos. A greve acontece em mais de 24 sindicatos, em cerca de 18 estados e encurrala a empresa. A greve coloca a ECT contra a parede e pressiona para repassar a pauta de reivindicações dos trabalhadores que são os 43,7% de reajuste da categoria, os 30 mil novos concursados, manutenção do convênio médico que a empresa quer privatizar etc. Os trabalhadores não aceitam isso e a empresa entrou com o dissídio coletivo.

A Federação vive um impasse porque tem uma parte da burocracia que quer rebaixar a proposta inicial dos trabalhadores e outra parte, ligada a nós e aos trabalhadores em geral que não concorda. Porque todo mundo sabe que o TST [Tribunal Superior do Trabalho] é um órgão patronal. Estamos num momento em que temos de ampliar a mobilização, organizar os trabalhadores e através da nossa firmeza na luta impor a nossa pauta de reivindicações. Esse é o momento em que estamos colocando a necessidade de levar um conjunto maior de militantes para Brasília, na segunda-feira, 24, para que nós através de uma posição firme num ato em frente ao Correio Central em Brasília e o TST, possamos expor a nossa indignação e através dessa mobilização arrancar as nossas reivindicações.

Causa Operária: Quais as dificuldades enfrentadas pela categoria, dentro e fora do movimento sindical?

Pedro Paulo: Dentro do movimento sindical tem um conjunto de pelegos do PCdoB e da Articulação Sindical/PT que, aliados à direção da ECT, estão traindo os trabalhadores descaradamente. Eles não querem organizar a Campanha Salarial e isso leva a uma luta contra esse segmento. E do lado de fora tem a própria direção da empresa, o TST, e o governo do PT, da Dilma Rousseff, que não querem resolver o problema dos trabalhadores. Então os trabalhadores através da sua mobilização terão que numa única cartada matar esses dois coelhos.

Dentro dessa contradição, entre os pelegos traidores, a cúpula do governo petista e a direção corrupta da ECT, vamos ter que impulsionar um vigoroso movimento. É o momento em que a categoria vai ter de se decidir por lutar firme num único Norte. Porque só através de uma luta contundente vamos conseguir passar por cima da direção da ECT, do governo do PT, PMDB e PCdoB, para que nós possamos atingir o objetivo que é a nossa pauta nacional de reivindicações.

Por isso, acreditamos que é importante aproveitar a luta de outras categorias como bancários, petroleiros, metalúrgicos para impulsionar um vigoroso movimento.

Queremos também expor para a sociedade que a empresa aumentou em até 40% o preço dos produtos para toda a população usuária.


Causa Operária: Por que somente Minas Gerais e Pará deflagraram greve no dia 11? Poderia explicar o que aconteceu no Pará?

Pedro Paulo: Nós tínhamos uma discussão sobre a necessidade de passar por cima da política de divisão do PCdoB e do PSTU - que é um agente duplo do PCdoB, infiltrado dentro da Fentect. Eles ficam titubeando entre participar efetivamente da CTB e a própria Conlutas. Nesse momento, temos concretamente o PCdoB e o PSTU de fora da Fentect tentando fazer um movimento à parte, isto é, um movimento contra a unificação e a luta da categoria. E dentro da Federação temos a Articulação, que é um braço do governo Dilma, da direção da empresa, que está traindo descaradamente a luta dos trabalhadores. Esses dois segmentos procuraram dividir a luta da nossa categoria. Nós, como um bloco de oposição ao peleguismo tiramos a política de fazer a greve dia 11 de setembro, mesmo com a ruptura da Articulação que depois de uma reunião com a ECT passou a dizer que não faria greve antes do dia 25. Mas uma parte desse bloco, no momento de fazer a greve, acabou aderindo à política do peleguismo, por pressão e por falta de clareza política. A greve foi desarticulada por fora do comando e sem qualquer decisão centralizada. E nós, da corrente Ecetista em Luta, do PCO, mantivemos a greve do dia 11 porque sabíamos que se ninguém entrasse em greve no dia 11, a greve nacional não iria acontecer.

Outros setores do movimento e trabalhadores independentes tentaram levar adiante a mesma posição. Isso aconteceu com a base do Pará, do Paraná, do Rio Grande do Sul, do Mato Grosso e de vários outros lugares. No caso do Rio Grande do Sul, Goiás e do Paraná, as próprias direções aliadas ao bloco de oposição ao peleguismo acabaram não organizando a greve e combatendo a posição da base. O que levou a uma confusão imensa. No caso do Mato Grosso onde a direção do sindicato é da Articulação Sindical os trabalhadores iam deliberar a greve para o dia 11, mas setores da Intersindical acabaram sendo coniventes e impediram que a greve se concretizasse. No Pará, a Articulação, que é a direção do sindicato, foi atropelada pelos trabalhadores da base, e junto com o Sintect-MG, deliberou a greve para a 0h do dia 11. Esses dois estados tiveram papel preponderante. Foi através de sua firmeza, da sua coerência em seguir o calendário da Federação e mantendo a greve que essa política acabou se impondo para os demais 33 sindicatos. Foi uma luta de classes que foi colocada aí. Hoje estamos vendo esse trabalho ser concretizado e isso deve se repetir ainda em um ou outro sindicato que não realizou sua assembleia.


Causa Operária: Para a justiça, a empresa fala que precisa de liminar para encerrar a greve que atrapalha a população, para a imprensa diz que a greve está sob controle... como está a greve em Minas Gerais e o que de fato está acontecendo?

Pedro Paulo: O que está acontecendo é que a empresa tem contratos milionários. Estamos num período eleitoral. Tem eleições municipais para milhares de candidatos a vereadores e prefeitos em todo o país. são mais de 5.600 municípios no País; são contratos fabulosos que a empresa tem e ela disse a todo momento que não haveria greve. Ela deu um salvo conduto que não pôde cumprir. A greve deixou isso muito claro. A empresa paga mal, não tem condições materiais para organizar o trabalho cotidianamente. Há uma politica de intransigência e truculência muito grande das chefias e os trabalhadores não estão dispostos a aceitar essa situação. Então, por um lado, a empresa procura mascarar a realidade da greve contratando milhares de trabalhadores de serviço temporário. Em Minas Gerais já contratou mais de 700 só na grande BH para dar conta do serviço que está todo parado, e também está trazendo cerca de 400 a 500 trabalhadores dos mais variados municípios dos cerca de 858 municípios do estado de Minas Gerais para tentar mascarar uma certa normalidade. Mas não está tendo condições de resolver, porque a paralisação está firme e a categoria não está disposta a aceitar essa patifaria da empresa.

Por outro lado, a empresa vendo que essa farsa não contempla a realidade procura o TST para exigir que haja um mínimo de pessoas trabalhando. Embora o serviço dos Correios não seja essencial, a Constituição e a Lei de Greve deixam isso bem claro, a empresa está comprando os ministros do TST para poder falar que Correio é um serviço essencial e aplicar continuidade do trabalho com um número mínimo de 40% que inclusive está acima da própria Lei de Greve que estabelece 30%. Mas isso é o que a empresa quer que aconteça; outra coisa é o que a realidade vai demonstrar. Se os trabalhadores vão aceitar essa imposição. Pelo que estamos vendo eles não estão aceitando e a greve está se alastrando por todo o interior de Minas Gerais. Me parece que a tendência no Brasil inteiro também é aprofundar essa situação de crise. Se depender da direção da burocracia sindical do PCdoB e da Articulação, vai ter mais uma traição. Mas vamos apostar também em que os trabalhadores perderam toda a ilusão nessa burocracia e que irão através de seus próprios métodos de luta passar por cima da direção da ECT, do TST e através da mobilização, pressionar o governo federal a atender as nossas reivindicações.


Causa Operária: O que está em jogo nesta Campanha Salarial? A postura da empresa e da burocracia sindical, conhecidos traidores da categoria, incluindo o PSTU/Conlutas, tem a ver com a vitória da oposição e as mudanças promovidas pelo último Congresso da categoria?

Pedro Paulo: Por um lado, o próprio sentimento dos trabalhadores, que no ano passado viram a postura da burocracia, toda a subordinação à direção da ECT, ao TST e ao governo. E também os desdobramentos do XI Contect, o Congresso da Federação, que através da iniciativa da corrente nacional Ecetistas em Luta do PCO e outros setores transformaram esse debate dentro do Congresso e ganharam a secretaria geral. Gerando uma derrota contundente na burocracia. Sobretudo na Articulação Sindical que tem um pé dentro da Fentect e um pé e a cabeça dentro do governo federal do PT e da direção da ECT.

Depois que o Talibã, [José Rivaldo], que era secretário geral da Fentect no ano passado disse que “decisão judicial não se contesta, cumpre-se”, ele mostrou o pelego que ele é e a que veio os sindicalistas da Articulação Sindical do PT. A categoria não aceitou e o resultado foram as mudanças estabelecidas no Congresso. Agora, a briga que acontece dentro do movimento sindical dos Correios é a Articulação Sindical tentando se reorganizar, aliada à direção da empresa, com o PSTU, com o PCdoB, contra a corrente sindical Ecetistas em Luta, o PCO. Contra as mudanças do XI Contect, contra os 120 mil trabalhadores da base dos Correios. Mas nós vamos ver que é uma questão de tempo para que a categoria coloque essa corja para correr.


Causa Operária: O que representa a divisão da categoria, promovida principalmente pelos sindicatos de São Paulo e Rio de Janeiro?

Pedro Paulo: Principalmente a direção do sindicato de São Paulo, mas também do Rio de Janeiro, Bauru e Tocantins, são uma parte da burocracia sindical que perdendo a pouca autoridade que tinham em suas bases resolveu sair da Federação antes que se desmoralizasse completamente no Congresso. Eles fizeram um recuo tático e tentaram se enfurnar em uma federação pelega, criada pela empresa na década de 80 que é a Findect, que era controlada pelo sindicato de Bauru. Isso quer dizer que tanto o PCdoB de São Paulo, Rio de Janeiro e Tocantins foram vergonhosamente ressuscitar a Findect que é uma criatura do PMDB e da direção da ECT. Para isso contam com todo o respaldo da empresa, para forjar uma mesa de negociação separada. Essa tentativa de traição foi posta às claras para os trabalhadores e todo mundo foi contra. Juridicamente também eles não conseguiram realizar essa divisão. Tudo com a conivência da empresa que mesmo reconhecendo que só a Fentect pode assinar acordo coletivo da categoria de Correios, manteve uma conversa paralela alimentando a confusão e a ideia de que o que eles estavam fazendo era viável. Tem também o próprio negociador que é o Luiz Eduardo, representante do PCdoB dentro da empresa. Ele é ex-sindicalista, já foi secretário geral da Fentect e coordena a ação dos sindicalistas traidores do PCdoB. A tentativa de divisão significa, na verdade, o fim de um acordo entre o PCdoB e a Articulação do PT para, às escondidas, entre quatro paredes fazer uma política de traição contra os trabalhadores. Como isso foi aberto, para toda a categoria, eles estão num beco sem saída.


Causa Operária: Como você avalia a tentativa de rebaixar a reivindicação dos trabalhadores e a proposta feita pela Ministra Cristina Peduzzi na audiência de conciliação no TST em 19 de setembro?

Pedro Paulo: A proposta de pauta rebaixada apresentada no Informe pelo Comando para as últimas assembleias é uma traição à luta que os trabalhadores realizaram desde o ano passado, e no Congresso no mês de junho, lá no Ceará. Foi tirada claramente uma Pauta, foi discutido amplamente o índice de 43,7% que é a expressão verdadeira da perda que a categoria teve desde 1995 para cá; ou seja, para o trabalhador recuperar o poder de compra que tinha em 1995 existe a necessidade de ter resgatado em seus salários o percentual de 43,7%. Simplesmente para recompor seus salários e recuperar seu poder de compra. Mas esses dirigentes sindicais acabaram cedendo à pressão da empresa e da ministra do TST. A própria tentativa de rebaixar a pauta é a demonstração de que não há um verdadeiro compromisso com a categoria. Agora é preciso que todos, dirigentes sindicais e a própria categoria reflitam sobre isso.

A proposta da ministra foi uma pegadinha. Esses ministros são todos biônicos. Ninguém elegeu. É totalmente antidemocrático. Estão a serviço do grande capital, do governo federal e, portanto, da direção da empresa e das grandes instituições do Estado capitalista. Os trabalhadores vão ter que passar por cima dessa política, como já fizeram recentemente outras categorias como os operários da Construção Civil, e através da greve cada vez mais vigorosa fazer valer o seus interesses de classe, a sua pauta de reivindicações. Nós, aqui do Sintect-MG, acreditamos que a categoria está muito segura de que é necessário ampliar a greve e passar por cima do TST, da direção da ECT e dos pelegos. Sejam eles do PCdoB e do PSTU que estão de fora da Fentect. Sejam eles da Articulação Sindical e seus comparsas que estão dentro da Fentect.

Causa Operária: O que aconteceu em Brasília após a audiência do TST e por quê?

Pedro Paulo: Como neste momento há uma confusão muito grande no movimento sindical dos Correios, confusão promovida por eles próprios, aliada a um peleguismo arraigado, o rebaixamento acabou acontecendo. Isso precisa ser superado pelos trabalhadores, com um novo conjunto de militantes que não tenham nenhum rabo preso com a direção da ECT, com os traidores do PT e com os patrões.

Isso aconteceu após a assembleia de Brasília depois da audiência do TST que nós consideramos muito ruim. É muito prejudicial para o movimento a conduta da presidenta do Sintect-DF. Ela é uma pessoa que apesar de estar no Comando de Negociações, nunca participou de nenhuma reunião com a empresa; burlou as negociações nos últimos dois meses, aparecendo apenas para defender posições direitistas nas reuniões do Comando na Fentect; está totalmente subordinada à política da direção da ECT; se vendeu por meia dúzia de trocados para sair do PCdoB e entrar na Articulação Sindical; esta foi a pessoa que colocou capangas na assembleia para tentar agredir o secretário geral da Fentect que é da nossa Corrente política, o companheiro Edson Dorta. Isto aconteceu porque eles temem que a verdade seja dita para a categoria de forma transparente e vigorosa. Por isso ameaçaram e tentaram agredir o nosso companheiro.

Nós aqui em Minas Gerais não aceitamos isso e tiramos uma moção de repúdio. Inclusive vamos levar uma centena de trabalhadores à Brasília nessa segunda-feira [dia 24] para participar do Ato nacional e junto com os trabalhadores da cidade fazer a luta, independente do sindicato. Essa situação preconizada pela Amanda não pode prevalecer. Queremos levar adiante a luta dos trabalhadores e vamos ver se diante da categoria organizada ela vai ter coragem de chamar qualquer crápula, qualquer capanga, qualquer facínora para ameaçar os trabalhadores ou encostar o dedo em algum de nós. Nós temos certeza que os trabalhadores de Brasília também estão vendo com muito maus olhos essa política pelega e traidora da Amanda. Por isso acreditamos que esses trabalhadores vão estar totalmente sintonizados conosco e não vão aceitar que essa ditadura continue acontecendo. Nós vamos chamar os trabalhadores do Distrito Federal a se solidarizar, a se unificar com a gente e a passar por cima de toda essa picaretagem, essa traição e tentativa de intimidação do nosso secretário geral. Até porque depois de muitos anos de traição, o nosso secretário geral não vai assinar qualquer acordo que represente perdas e seja contra os interesses dos trabalhadores.


Causa Operária: Como o dissídio coletivo no TST e o julgamento previsto para as próximas semanas influenciam na greve e na mobilização da categoria? Quais os próximos passos para o movimento?

Pedro Paulo: O problema é que como esse setor pelego não quer esclarecer a categoria, não quer dizer que a categoria não precisa abaixar a cabeça e seguir a ordem do TST. Precisamos abrir esse debate para que cada vez mais as ilusões sejam extintas do meio da classe trabalhadora. Vamos ter de fazer esse trabalho. Mostrar para os trabalhadores que eles estão sendo traídos e que a categoria tem que ir para cima do TST, para cima da direção da empresa, através da greve cada dia mais forte e garantir a nossa pauta de reivindicações.

Causa Operária: Os trabalhadores preparam um ato em Brasília no dia 24. Qual a importância desse ato para o desenvolvimento da campanha salarial daqui para frente?

Pedro Paulo: A Federação chamou esse ato porque pelo menos uma parte da Fentect está vendo a necessidade de criar uma ação conjunta da categoria. Somente através dessa ação conjunta onde está a direção da empresa, onde está o Ministério das Comunicações, o Ministério do Planejamento, o governo federal que é o nosso patrão, é que nós poderemos resolver esse impasse nas negociações. Não adianta ficar fragmentando essa ação em estados do Brasil, sendo que o local comum de atuar nesse momento é Brasília. Eu acredito que deve ser um marco de reorganização e unificação da nossa categoria. Através desse ato vamos poder pressionar o governo, pressionar a ECT e também o TST. Além de mostrar para toda a sociedade brasileira todas as mazelas que acontece nos Correios. Através disso vamos dar um recado: o próximo passo além desse é uma política de ocupação, por dentro da ECT, em Brasília, no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Minas, nos principais setores dos Correios.

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