Entrevista com o presidente do Sindicato dos
Trabalhadores dos Correios de Minas Gerais, Pedro Paulo de Abreu Pinheiro,
membro da Coordenação Nacional da Corrente Sindical Nacional Ecetistas em Luta,
do PCO, sobre a greve da categoria
Causa
Operária: O que está acontecendo nesse momento na Campanha Salarial dos
trabalhadores dos Correios?
Pedro
Paulo: Depois
de todo o impasse da greve do dia 11 de setembro quando só entraram em greve os
sindicatos de Minas Gerais (Grande Belo Horizonte) e Pará, nesse momento temos
uma greve impulsionada pela base dos trabalhadores contra a burocracia sindical
da maioria dos sindicatos. A greve acontece em mais de 24 sindicatos, em cerca
de 18 estados e encurrala a empresa. A greve coloca a ECT contra a parede e
pressiona para repassar a pauta de reivindicações dos trabalhadores que são os
43,7% de reajuste da categoria, os 30 mil novos concursados, manutenção do
convênio médico que a empresa quer privatizar etc. Os trabalhadores não aceitam
isso e a empresa entrou com o dissídio coletivo.
A
Federação vive um impasse porque tem uma parte da burocracia que quer rebaixar a
proposta inicial dos trabalhadores e outra parte, ligada a nós e aos
trabalhadores em geral que não concorda. Porque todo mundo sabe que o TST
[Tribunal Superior do Trabalho] é um órgão patronal. Estamos num momento em que
temos de ampliar a mobilização, organizar os trabalhadores e através da nossa
firmeza na luta impor a nossa pauta de reivindicações. Esse é o momento em que
estamos colocando a necessidade de levar um conjunto maior de militantes para
Brasília, na segunda-feira, 24, para que nós através de uma posição firme num
ato em frente ao Correio Central em Brasília e o TST, possamos expor a nossa
indignação e através dessa mobilização arrancar as nossas
reivindicações.
Causa
Operária: Quais as dificuldades enfrentadas pela categoria, dentro e fora do
movimento sindical?
Pedro
Paulo:
Dentro do movimento sindical tem um conjunto de pelegos do PCdoB e da
Articulação Sindical/PT que, aliados à direção da ECT, estão traindo os
trabalhadores descaradamente. Eles não querem organizar a Campanha Salarial e
isso leva a uma luta contra esse segmento. E do lado de fora tem a própria
direção da empresa, o TST, e o governo do PT, da Dilma Rousseff, que não querem
resolver o problema dos trabalhadores. Então os trabalhadores através da sua
mobilização terão que numa única cartada matar esses dois coelhos.
Dentro
dessa contradição, entre os pelegos traidores, a cúpula do governo petista e a
direção corrupta da ECT, vamos ter que impulsionar um vigoroso movimento. É o
momento em que a categoria vai ter de se decidir por lutar firme num único
Norte. Porque só através de uma luta contundente vamos conseguir passar por cima
da direção da ECT, do governo do PT, PMDB e PCdoB, para que nós possamos atingir
o objetivo que é a nossa pauta nacional de reivindicações.
Por
isso, acreditamos que é importante aproveitar a luta de outras categorias como
bancários, petroleiros, metalúrgicos para impulsionar um vigoroso
movimento.
Queremos
também expor para a sociedade que a empresa aumentou em até 40% o preço dos
produtos para toda a população usuária.
Causa
Operária: Por que somente Minas Gerais e Pará deflagraram greve no dia 11?
Poderia explicar o que aconteceu no Pará?
Pedro
Paulo: Nós
tínhamos uma discussão sobre a necessidade de passar por cima da política de
divisão do PCdoB e do PSTU - que é um agente duplo do PCdoB, infiltrado dentro
da Fentect. Eles ficam titubeando entre participar efetivamente da CTB e a
própria Conlutas. Nesse momento, temos concretamente o PCdoB e o PSTU de fora da
Fentect tentando fazer um movimento à parte, isto é, um movimento contra a
unificação e a luta da categoria. E dentro da Federação temos a Articulação, que
é um braço do governo Dilma, da direção da empresa, que está traindo
descaradamente a luta dos trabalhadores. Esses dois segmentos procuraram dividir
a luta da nossa categoria. Nós, como um bloco de oposição ao peleguismo tiramos
a política de fazer a greve dia 11 de setembro, mesmo com a ruptura da
Articulação que depois de uma reunião com a ECT passou a dizer que não faria
greve antes do dia 25. Mas uma parte desse bloco, no momento de fazer a greve,
acabou aderindo à política do peleguismo, por pressão e por falta de clareza
política. A greve foi desarticulada por fora do comando e sem qualquer decisão
centralizada. E nós, da corrente Ecetista em Luta, do PCO, mantivemos a greve do
dia 11 porque sabíamos que se ninguém entrasse em greve no dia 11, a greve
nacional não iria acontecer.
Outros
setores do movimento e trabalhadores independentes tentaram levar adiante a
mesma posição. Isso aconteceu com a base do Pará, do Paraná, do Rio Grande do
Sul, do Mato Grosso e de vários outros lugares. No caso do Rio Grande do Sul,
Goiás e do Paraná, as próprias direções aliadas ao bloco de oposição ao
peleguismo acabaram não organizando a greve e combatendo a posição da base. O
que levou a uma confusão imensa. No caso do Mato Grosso onde a direção do
sindicato é da Articulação Sindical os trabalhadores iam deliberar a greve para
o dia 11, mas setores da Intersindical acabaram sendo coniventes e impediram que
a greve se concretizasse. No Pará, a Articulação, que é a direção do sindicato,
foi atropelada pelos trabalhadores da base, e junto com o Sintect-MG, deliberou
a greve para a 0h do dia 11. Esses dois estados tiveram papel preponderante. Foi
através de sua firmeza, da sua coerência em seguir o calendário da Federação e
mantendo a greve que essa política acabou se impondo para os demais 33
sindicatos. Foi uma luta de classes que foi colocada aí. Hoje estamos vendo esse
trabalho ser concretizado e isso deve se repetir ainda em um ou outro sindicato
que não realizou sua assembleia.
Causa
Operária: Para a justiça, a empresa fala que precisa de liminar para encerrar a
greve que atrapalha a população, para a imprensa diz que a greve está sob
controle... como está a greve em Minas Gerais e o que de fato está
acontecendo?
Pedro
Paulo: O
que está acontecendo é que a empresa tem contratos milionários. Estamos num
período eleitoral. Tem eleições municipais para milhares de candidatos a
vereadores e prefeitos em todo o país. são mais de 5.600 municípios no País; são
contratos fabulosos que a empresa tem e ela disse a todo momento que não haveria
greve. Ela deu um salvo conduto que não pôde cumprir. A greve deixou isso muito
claro. A empresa paga mal, não tem condições materiais para organizar o trabalho
cotidianamente. Há uma politica de intransigência e truculência muito grande das
chefias e os trabalhadores não estão dispostos a aceitar essa situação. Então,
por um lado, a empresa procura mascarar a realidade da greve contratando
milhares de trabalhadores de serviço temporário. Em Minas Gerais já contratou
mais de 700 só na grande BH para dar conta do serviço que está todo parado, e
também está trazendo cerca de 400 a 500 trabalhadores dos mais variados
municípios dos cerca de 858 municípios do estado de Minas Gerais para tentar
mascarar uma certa normalidade. Mas não está tendo condições de resolver, porque
a paralisação está firme e a categoria não está disposta a aceitar essa
patifaria da empresa.
Por
outro lado, a empresa vendo que essa farsa não contempla a realidade procura o
TST para exigir que haja um mínimo de pessoas trabalhando. Embora o serviço dos
Correios não seja essencial, a Constituição e a Lei de Greve deixam isso bem
claro, a empresa está comprando os ministros do TST para poder falar que Correio
é um serviço essencial e aplicar continuidade do trabalho com um número mínimo
de 40% que inclusive está acima da própria Lei de Greve que estabelece 30%. Mas
isso é o que a empresa quer que aconteça; outra coisa é o que a realidade vai
demonstrar. Se os trabalhadores vão aceitar essa imposição. Pelo que estamos
vendo eles não estão aceitando e a greve está se alastrando por todo o interior
de Minas Gerais. Me parece que a tendência no Brasil inteiro também é aprofundar
essa situação de crise. Se depender da direção da burocracia sindical do PCdoB e
da Articulação, vai ter mais uma traição. Mas vamos apostar também em que os
trabalhadores perderam toda a ilusão nessa burocracia e que irão através de seus
próprios métodos de luta passar por cima da direção da ECT, do TST e através da
mobilização, pressionar o governo federal a atender as nossas
reivindicações.
Causa
Operária: O que está em jogo nesta Campanha Salarial? A postura da empresa e da
burocracia sindical, conhecidos traidores da categoria, incluindo o
PSTU/Conlutas, tem a ver com a vitória da oposição e as mudanças promovidas pelo
último Congresso da categoria?
Pedro
Paulo: Por
um lado, o próprio sentimento dos trabalhadores, que no ano passado viram a
postura da burocracia, toda a subordinação à direção da ECT, ao TST e ao
governo. E também os desdobramentos do XI Contect, o Congresso da Federação, que
através da iniciativa da corrente nacional Ecetistas em Luta do PCO e outros
setores transformaram esse debate dentro do Congresso e ganharam a secretaria
geral. Gerando uma derrota contundente na burocracia. Sobretudo na Articulação
Sindical que tem um pé dentro da Fentect e um pé e a cabeça dentro do governo
federal do PT e da direção da ECT.
Depois
que o Talibã, [José Rivaldo], que era secretário geral da Fentect no ano passado
disse que “decisão judicial não se contesta, cumpre-se”, ele mostrou o pelego
que ele é e a que veio os sindicalistas da Articulação Sindical do PT. A
categoria não aceitou e o resultado foram as mudanças estabelecidas no
Congresso. Agora, a briga que acontece dentro do movimento sindical dos Correios
é a Articulação Sindical tentando se reorganizar, aliada à direção da empresa,
com o PSTU, com o PCdoB, contra a corrente sindical Ecetistas em Luta, o PCO.
Contra as mudanças do XI Contect, contra os 120 mil trabalhadores da base dos
Correios. Mas nós vamos ver que é uma questão de tempo para que a categoria
coloque essa corja para correr.
Causa
Operária: O que representa a divisão da categoria, promovida principalmente
pelos sindicatos de São Paulo e Rio de Janeiro?
Pedro
Paulo: Principalmente
a direção do sindicato de São Paulo, mas também do Rio de Janeiro, Bauru e
Tocantins, são uma parte da burocracia sindical que perdendo a pouca autoridade
que tinham em suas bases resolveu sair da Federação antes que se desmoralizasse
completamente no Congresso. Eles fizeram um recuo tático e tentaram se enfurnar
em uma federação pelega, criada pela empresa na década de 80 que é a Findect,
que era controlada pelo sindicato de Bauru. Isso quer dizer que tanto o PCdoB de
São Paulo, Rio de Janeiro e Tocantins foram vergonhosamente ressuscitar a
Findect que é uma criatura do PMDB e da direção da ECT. Para isso contam com
todo o respaldo da empresa, para forjar uma mesa de negociação separada. Essa
tentativa de traição foi posta às claras para os trabalhadores e todo mundo foi
contra. Juridicamente também eles não conseguiram realizar essa divisão. Tudo
com a conivência da empresa que mesmo reconhecendo que só a Fentect pode assinar
acordo coletivo da categoria de Correios, manteve uma conversa paralela
alimentando a confusão e a ideia de que o que eles estavam fazendo era viável.
Tem também o próprio negociador que é o Luiz Eduardo, representante do PCdoB
dentro da empresa. Ele é ex-sindicalista, já foi secretário geral da Fentect e
coordena a ação dos sindicalistas traidores do PCdoB. A tentativa de divisão
significa, na verdade, o fim de um acordo entre o PCdoB e a Articulação do PT
para, às escondidas, entre quatro paredes fazer uma política de traição contra
os trabalhadores. Como isso foi aberto, para toda a categoria, eles estão num
beco sem saída.
Causa
Operária: Como você avalia a tentativa de rebaixar a reivindicação dos
trabalhadores e a proposta feita pela Ministra Cristina Peduzzi na audiência de
conciliação no TST em 19 de setembro?
Pedro
Paulo: A
proposta de pauta rebaixada apresentada no Informe pelo Comando para as últimas
assembleias é uma traição à luta que os trabalhadores realizaram desde o ano
passado, e no Congresso no mês de junho, lá no Ceará. Foi tirada claramente uma
Pauta, foi discutido amplamente o índice de 43,7% que é a expressão verdadeira
da perda que a categoria teve desde 1995 para cá; ou seja, para o trabalhador
recuperar o poder de compra que tinha em 1995 existe a necessidade de ter
resgatado em seus salários o percentual de 43,7%. Simplesmente para recompor
seus salários e recuperar seu poder de compra. Mas esses dirigentes sindicais
acabaram cedendo à pressão da empresa e da ministra do TST. A própria tentativa
de rebaixar a pauta é a demonstração de que não há um verdadeiro compromisso com
a categoria. Agora é preciso que todos, dirigentes sindicais e a própria
categoria reflitam sobre isso.
A
proposta da ministra foi uma pegadinha. Esses ministros são todos biônicos.
Ninguém elegeu. É totalmente antidemocrático. Estão a serviço do grande capital,
do governo federal e, portanto, da direção da empresa e das grandes instituições
do Estado capitalista. Os trabalhadores vão ter que passar por cima dessa
política, como já fizeram recentemente outras categorias como os operários da
Construção Civil, e através da greve cada vez mais vigorosa fazer valer o seus
interesses de classe, a sua pauta de reivindicações. Nós, aqui do Sintect-MG,
acreditamos que a categoria está muito segura de que é necessário ampliar a
greve e passar por cima do TST, da direção da ECT e dos pelegos. Sejam eles do
PCdoB e do PSTU que estão de fora da Fentect. Sejam eles da Articulação Sindical
e seus comparsas que estão dentro da Fentect.
Causa
Operária: O que aconteceu em Brasília após a audiência do TST e por
quê?
Pedro
Paulo: Como
neste momento há uma confusão muito grande no movimento sindical dos Correios,
confusão promovida por eles próprios, aliada a um peleguismo arraigado, o
rebaixamento acabou acontecendo. Isso precisa ser superado pelos trabalhadores,
com um novo conjunto de militantes que não tenham nenhum rabo preso com a
direção da ECT, com os traidores do PT e com os patrões.
Isso
aconteceu após a assembleia de Brasília depois da audiência do TST que nós
consideramos muito ruim. É muito prejudicial para o movimento a conduta da
presidenta do Sintect-DF. Ela é uma pessoa que apesar de estar no Comando de
Negociações, nunca participou de nenhuma reunião com a empresa; burlou as
negociações nos últimos dois meses, aparecendo apenas para defender posições
direitistas nas reuniões do Comando na Fentect; está totalmente subordinada à
política da direção da ECT; se vendeu por meia dúzia de trocados para sair do
PCdoB e entrar na Articulação Sindical; esta foi a pessoa que colocou capangas
na assembleia para tentar agredir o secretário geral da Fentect que é da nossa
Corrente política, o companheiro Edson Dorta. Isto aconteceu porque eles temem
que a verdade seja dita para a categoria de forma transparente e vigorosa. Por
isso ameaçaram e tentaram agredir o nosso companheiro.
Nós
aqui em Minas Gerais não aceitamos isso e tiramos uma moção de repúdio.
Inclusive vamos levar uma centena de trabalhadores à Brasília nessa
segunda-feira [dia 24] para participar do Ato nacional e junto com os
trabalhadores da cidade fazer a luta, independente do sindicato. Essa situação
preconizada pela Amanda não pode prevalecer. Queremos levar adiante a luta dos
trabalhadores e vamos ver se diante da categoria organizada ela vai ter coragem
de chamar qualquer crápula, qualquer capanga, qualquer facínora para ameaçar os
trabalhadores ou encostar o dedo em algum de nós. Nós temos certeza que os
trabalhadores de Brasília também estão vendo com muito maus olhos essa política
pelega e traidora da Amanda. Por isso acreditamos que esses trabalhadores vão
estar totalmente sintonizados conosco e não vão aceitar que essa ditadura
continue acontecendo. Nós vamos chamar os trabalhadores do Distrito Federal a se
solidarizar, a se unificar com a gente e a passar por cima de toda essa
picaretagem, essa traição e tentativa de intimidação do nosso secretário geral.
Até porque depois de muitos anos de traição, o nosso secretário geral não vai
assinar qualquer acordo que represente perdas e seja contra os interesses dos
trabalhadores.
Causa
Operária: Como o dissídio coletivo no TST e o julgamento previsto para as
próximas semanas influenciam na greve e na mobilização da categoria? Quais os
próximos passos para o movimento?
Pedro
Paulo: O
problema é que como esse setor pelego não quer esclarecer a categoria, não quer
dizer que a categoria não precisa abaixar a cabeça e seguir a ordem do TST.
Precisamos abrir esse debate para que cada vez mais as ilusões sejam extintas do
meio da classe trabalhadora. Vamos ter de fazer esse trabalho. Mostrar para os
trabalhadores que eles estão sendo traídos e que a categoria tem que ir para
cima do TST, para cima da direção da empresa, através da greve cada dia mais
forte e garantir a nossa pauta de reivindicações.
Causa
Operária: Os trabalhadores preparam um ato em Brasília no dia 24. Qual a
importância desse ato para o desenvolvimento da campanha salarial daqui para
frente?
Pedro
Paulo: A
Federação chamou esse ato porque pelo menos uma parte da Fentect está vendo a
necessidade de criar uma ação conjunta da categoria. Somente através dessa ação
conjunta onde está a direção da empresa, onde está o Ministério das
Comunicações, o Ministério do Planejamento, o governo federal que é o nosso
patrão, é que nós poderemos resolver esse impasse nas negociações. Não adianta
ficar fragmentando essa ação em estados do Brasil, sendo que o local comum de
atuar nesse momento é Brasília. Eu acredito que deve ser um marco de
reorganização e unificação da nossa categoria. Através desse ato vamos poder
pressionar o governo, pressionar a ECT e também o TST. Além de mostrar para toda
a sociedade brasileira todas as mazelas que acontece nos Correios. Através disso
vamos dar um recado: o próximo passo além desse é uma política de ocupação, por
dentro da ECT, em Brasília, no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Minas, nos
principais setores dos Correios.
viajo na maionese.
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