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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Anaí Caproni: “Esta foi a maior, mais escandalosa e mais mal disfarçada traição que os 110 mil trabalhadores dos Correios já sofreram em toda a sua história, repleta de traições dos dirigentes sindicais do Bando dos Quatro”

Causa Operária entrevista a companheira Anaí Caproni, da minoria da direção da Federação Nacional dos Correios e da Corrente Nacional de Oposicão Ecetistas em Luta, que faz um primeiro balanço da greve nacional dos trabalhadores dos Correios


Causa Operária - Como você vê a forma como a greve terminou?

Anaí Caproni – Bem, em primeiro lugar, quero esclarecer que o balanço definitivo desta greve, que foi um acontecimento muito importante na história da categoria, será feito neste final de semana na Plenária Nacional da Corrente Ecetistas em Luta, a ser realizada no sábado, e na reunião do Comitê Central Nacional do Partido da Causa Operária que será realizado no domingo. Este balanço será feito a partir das informações, impressões e análises feitas pelos militantes da corrente e será uma conclusão coletiva que deveremos apresentar para a nossa categoria e todo o movimento operário como parte da nossa orientação para este movimento. Mesmo nessas condições, quero deixar estabelecido que esta entrevista também não reproduz opiniões puramente pessoais, mas uma primeira avaliação que é comum à direção da corrente e do partido.
A greve terminou da forma mais lamentável possível. Não foi um final, foi uma debandada, com muitos sindicatos sequer realizando assembleias, com o TST, a imprensa e a direção da empresa coordenando a volta ao trabalho de maneira desordenada em todos os lugares, exceto em Minas Gerais, onde os trabalhadores realizaram assembleia e discutiram democraticamente o que fazer. Em segundo lugar, a volta ao trabalho não foi decidida pelos sindicatos, que abandonaram a sua função – em grande medida aparente – de organizar os trabalhadores e a entregaram nas mãos do TST, uma coisa inusitada em se tratando de movimentos sindicais organizados como os do Correio. Em alguns casos, a coisa chegou ao grotesco, como em S. Paulo, onde a direção sindical – se é que podemos chamar por esse nome os office-boys da direção da empresa e do TST como os Diviza e Peixe, convocaram uma assembleia-farsa na meia noite de terça–feira para o feriado de quarta-feira, a qual, logicamente não passou de uma reunião de menos de 200 pessoas, enquanto que as assembleias da greve tiveram 10 ou 20 vezes mais trabalhadores, chamada apenas para formalizar o final da greve e que acabou sem nenhuma votação, revelando claramente o seu caráter de farsa. Nessa altura, todos os dirigentes dos sindicatos, do PT ao PSTU já estavam fazendo a propaganda da volta ao trabalho sobre a base da decisão do TST. Em sindicatos dirigidos pelo PSTU os trabalhadores voltaram ao trabalho massivamente antes de qualquer assembleia, como aconteceu em Pernambuco e em outros, nos quais sequer foi realizada assembleia.
Esta foi a maior, mais escandalosa e mais mal disfarçada traição que os 110 mil trabalhadores dos Correios já sofreram em toda a sua história, repleta de traições dos dirigentes sindicais do Bando dos Quatro. Uma questão fundamental a ser considerada e que surge objetivamente do desenlace da greve é o nível de organização da categoria que deve aumentar muito em termos de militantes e de informação para sermos capazes de fazer frente a esta máquina de desinformação que é a aliança dos quatro partidos de esquerda que dirigem a maioria dos sindicatos com a direção da ECT, a burguesia, a imprensa burguesa e o Estado capitalista. Este é um tema central a ser discutido na plenária de amanhã.

Causa Operária - Como você avalia o resultado, expresso na decisão do TST?

Anaí Caproni – Este é um dos piores, senão o pior dos resultados econômicos que os trabalhadores que os Correios já tiveram em pelo menos quinze anos, senão precisamente o pior. E as suas consequências ainda não foram avaliadas em sua totalidade. Estamos buscando informações sobre o acordo total, porque estamos sendo informados de que, no meio da confusão, a empresa, o comando e a direção da Fentect concordaram em um conjunto de ataques a outros direitos dos trabalhadores. Não apenas a categoria não tem aumento algum após dois anos sem campanha salarial, como terá que pagar uma pesada taxa na forma da compensação dos dias parados. No entanto, nem a direção da empresa, nem os pelegos do PT, PCdoB, PSTU e Psol devem se enganar: este acordo, ainda mais que o de 2009, quando foi assinado o acordo bianual, será o combustível de uma grande radicalização da luta dos trabalhadores ecetistas. O governo atuou pressionado por uma consideração política maior que impediu a tradicional distribuição de migalhas e esmolas ao estilo do governo Lula que servia de panos quentes, a saber, o fato de que, depois de muita conversa fiada sobre a potência econômica que é o Brasil e como o Brasil ia salvar o Primeiro Mundo, o País está diante de uma recessão, virtualmente estabelecida porque as previsões econômicas apontam crescimento abaixo de 3,5% e inflação que está arranhando o teto do 8%. Nessas condições, o governo jogou todas as fichas em derrotar a greve e foi bem sucedido, mas não conseguirá evitar as consequências políticas desta ação e estas consequências vão ter influência em todo o movimento sindical e também no terreno eleitoral.

Causa Operária - Qual é o seu balanço geral do movimento grevista?

Anaí Caproni – Esta foi a maior e mais importante greve da categoria em pelo menos 20 anos. Ela mesma é um sintoma do fim de uma etapa, que durou pelos dois governos de FHC e pelos dois governos de Lula, onde a classe operária foi mantida debaixo da bota neoliberal com a ajuda de uma burocracia sindical vendida. A greve passou por cima do sistema de contenção de toda a burocracia sindical, que abriu falência na greve. Os trabalhadores sitiaram toda a burocracia sindical que só mostrou sua tradicional arrogância e tratamento de patrão com os trabalhadores no Facebook e de forma anônima. Nas assembleias, tremiam como um taquaral no vento e mal conseguiam falar, contemporizando com os trabalhadores para não serem escorraçados a pontapés e esperando que um milagre os viesse salvar dos próprios trabalhadores que dizem representar. Em muitas oportunidades, foram literalmente forçados pelas assembleias, como aconteceu no caso do acordo que fizeram com a empresa, que foi rejeitado em todas as assembleias sem nenhuma exceção, apesar de que a quase totalidade dessas diretorias defendia, sem ousar se pronunciar, a aprovação desse acordo. Ao final, os trabalhadores foram vítimas de uma manobra, não da imposição de uma decisão para pôr fim à greve, tanto que na maioria dos sindicatos importantes a política dos pelegos foi não chamar assembleias para não incorrer na possibilidade de que o ódio dos trabalhadores contra eles fosse expresso de forma prática.
Mais importante do que tudo é saber que a greve foi derrotada por um expediente puramente político e não pela força do aparelho da burocracia, da empresa ou do Estado, exceto em causar confusão: a inexperiência da maioria dos trabalhadores diante da jogada casada entre o TST e a empresa. Os trabalhadores foram pegos de surpresa e não tiveram tempo de reagir. Isso, no entanto, será uma vitória de Pirro, pela sua própria natureza. Ficam duas questões centrais que o movimento terá que resolver. Em primeiro lugar, é preciso esclarecer estes problemas, que serão esclarecidos, não tenho dúvida, sobre o papel do TST e outras questões, uma vez que os trabalhadores, pela amplitude do movimento, deverão aprender estas coisas muito mais rapidamente. E, em segundo, lugar, a necessidade de superar o sindicalismo artesanal representado pela burocracia e constituir uma verdadeira organização sindical que seja capaz de orientar os movimentos através de um sistema de informação que corresponda à envergadura de um movimento de 110 mil pessoas. A burocracia explorou, desordenadamente, desajeitadamente e no desespero, esse últimos trunfos, estes últimos cartuchos e já não havia muito mais munição. Em grande medida, a operação foi uma operação do governo do PT. Os trabalhadores, obviamente, não podem ser culpados pela sua falta de experiência nem pela falta de organização, que é uma decorrência da primeira lacuna. Tudo é parte do desenvolvimento da luta de classes. O importante é que a situação colocou a aceleração dessa experiência na ordem do dia. Nosso papel é intervir nesse processo de forma organizada e consciente.

Causa Operária - A política das direções sindicais do PT e do PCdoB foi decisiva para encerrar o movimento, como você vê a sua conduta na greve?

Anaí Caproni – A política das direções sindicais foi mais uma antipolítica do que uma política, passividade mais que ação e confusão mais que uma estratégica clara. Diante do fato de que as assembleias passaram por cima dos seus tradicionais e medíocres esquemas de contenção viram-se, de repente, como um mágico que não consegue encontrar o coelho escondido para tirar da cartola. A partir da derrota acachapante que sofreram nas assembleias que rejeitaram a sua proposta de acordo, passaram a deixar o tempo passar sem fazer nada, sem política e sem eixo de intervenção, sofrendo passivamente a pressão do movimento e evitando fazer alguma coisa, na medida em que o próprio movimento não tinha organização para impor a eles. A mesma coisa aconteceu com a direção da ECT. O bastão passou ao governo do PT que, de comum acordo com o TST, em particular o presidente do órgão, montou uma operação para derrotar a greve. Nesse sentido, podemos dizer que a greve foi derrotada, mas não foi encerrada. Não consideraria estranho se um movimento explodisse muito antes da próxima campanha salarial.
Do ponto de vista da greve, esta passividade foi uma traição completa. Envolvendo tanto PT como PCdoB, como PSTU e PSol. Sua falta de ação deveu-se a que o seu plano para encerrar a greve fracassou e tiveram que pedir ajuda para trair. Boicotaram passivamente todas as propostas de luta, esperando que o truque do governo surtisse efeito. Ao final, agiram como serviçais do governo, dizendo aos trabalhadores que tinham que aceitar a decisão do TST. Foi uma enorme traição, mas uma traição lamentável. Na realidade, os sindicatos dos quatro partidos foram coadjuvantes da política do governo do PT.

Causa Operária - E os sindicatos que se dizem de oposição, como os do PSTU e outros?

Anaí Caproni – Aqui, temos que considerar que os sindicatos se dividem em três alas. Uma ala burocrática, ou seja, um aparelho burocrático oposto ao trabalhadores, representado pelas direções do PT, PCdoB, PSTU e PSol. Uma outra ala que constitui uma burocracia centrista ou, mais precisamente, uma ala centrista de sindicatos burocráticos que oscilou durante toda a greve entre a nossa política e a pressão dos trabalhadores de um lado, e a pressão e a orientação da burocracia de outro, representada por alguns sindicatos como Campinas, Piauí e uns poucos outros. No caso desses sindicatos, eles foram paralisados pela política da burocracia e deverão sofrer as consequências desta política. O PSTU tem, por seu lado, um papel essencial e não secundário da engrenagem burocrática, porque é a sua ala, de certo modo, esquerda, ou seja, aquela que leva os elementos vacilantes e esquerdistas, mais confusos, para a política da burocracia, que acopla os sindicalistas centristas como vagões à locomotiva da ala direita da burocracia, PT e PCdoB. Eu creio que o resumo da farsa que é o PSTU como oposição pode ser expresso pelo fato de que o membro do PSTU no Comando, Jacozinho, publicou, em separado do restante do comando, um comunicado onde dizia que era preciso acatar a decisão do TST e voltar ao trabalho, ou seja, diferente na forma, idêntico no conteúdo. Esse é todo o segredo da política do PSTU: dar uma forma, uma aparência de esquerda, à política de traição do conjunto da burocracia. Nesse sentido, o que muitos não entendem é que o Bando dos Quatro é uma engrenagem parecida com o parlamento burguês, como situação e oposição, direita e esquerda, mas que levam todos adiante a mesma política. No entanto, desta vez, o PSTU foi obrigado a se desmascarar diante de um auditório muito amplo, como em S. Paulo, onde desde as primeiras assembleias deram explicitamente o seu apoio ao núcleo central da traição à greve que é a diretoria do sindicato. Em geral, não conseguiram estabelecer nenhuma diferença para iludir os trabalhadores. Na preparação da campanha salarial apoiaram a ação facistóide do PCdoB e do PT que expulsou toda a delegação de Ecetistas em Luta, compreendendo as delegações de dois estados inteiros e vários delegados de outros estados, uma coisa inusitada e uma clara perseguição política, uma vez que nunca se viu, em um movimento sindical, a exclusão de todos os delegados de uma determinada corrente a não ser por ditaduras. Em segundo lugar, opuseram-se à realização de atos públicos em Brasília para pressionar o governo e, em geral, a toda ação de luta durante a greve. Acompanharam passivamente a formulação do acordo com o TST, realizado pelo comando, vindo depois dizer que não concordaram quando este foi amplamente rejeitado, um método calhorda, típico do PSTU em todos os lugares. Finalmente, somaram-se à política de fazer os trabalhadores obedeceram ao TST sob ameaça, revelando que são, também, um braço político da ação repressiva do Estado capitalista contra a classe operária.

Causa Operária - Como irá se desenvolver a luta contra a privatização a partir de agora?

Anaí Caproni – O quadro está ainda muito indefinido. O que é absolutamente certo é que, passado o impacto inicial da traição e da farsa, a revolta da categoria deverá se expressar. Temos que procurar prever as formas que esta revolta pode assumir para formular uma política para o próximo período. Nossa tarefa central nesse momento é fazer a discussão do balanço da greve, da traição, do papel do TST e das necessidades de organização do movimento em oposição à ação desorganizadora do peleguismo do Bando dos Quatro.

Causa Operária - Como foi a greve em Minas Gerais e porque existe a campanha de calúnias contra o sindicato mineiro?

Anaí Caproni – A greve em Minas Gerais, ali onde está o Sintect-MG - porque a empresa, para dividir os trabalhadores, criou artificialmente outros dois sindicatos em Minas Gerais que servem para paralisar a categoria em mais da metade do Estado - foi uma das maiores e com certeza a mais ativa e mais radicalizada do País. Na quinta-feira, quando todos os sindicatos já haviam decidido voltar ao trabalho, os ecetistas mineiros fizeram uma passeata e uma assembleia onde era visível a revolta com a situação e onde não apenas o TST, como o Bando dos Quatro foi amplamente repudiado. Dezenas de trabalhadores falaram na assembleia, um exemplo para todo o país, principalmente S. Paulo, onde nós da oposição não podemos falar. Uma professora do PSTU, porque os professores estão em greve nesse momento em Belo Horizonte, falou e quando anunciou que era militante da Conlutas recebeu uma vaia unânime que praticamente a calou. A direção da ECT, como parte das suas manobras para quebrar a greve, fez uma campanha para tentar estabelecer que a greve em Minas Gerais foi a menor de todo o País, uma coisa manifestamente absurda, projetada para minar a nossa autoridade diante dos grevistas, intriga que fracassou completamente. Sindicalistas do PT, PCdoB e PSTU, de conluio com esta manobra, entre eles o próprio Jacozinho, membro do PSTU no comando, este o mais ativo propagandista da direção da ECT, utilizaram esta mentira para atacar o Sintect-MG e o conjunto dos trabalhadores de Minas Gerais. Na assembleia de ontem, no entanto, os trabalhadores informados desta perfídia, aprovaram uma moção de repúdio contra os mentirosos que trabalham a serviço do governo do PT e da direção da ECT.

Causa Operária - Como foram organizados os atos em Brasília e qual a importância deles?

Anaí Caproni – Os atos em Brasília foram fundamentais para mostrar que a burocracia queria impedir a todo custo o desenvolvimento da greve. Fizemos três e foram extremamente combativos. O segundo deles paralisou durante metade do dia o edifício central da administração. Infelizmente, o Bando dos Quatro sabotou esta iniciativa de todos os modos, indo contra a tendência das sua próprias bases em todos os Estados. O Sintect-SP, maior sindicato do País, colocou apenas um ônibus e apenas no último ato. O mesmo fez o Rio de Janeiro, também dirigido pelo PCdoB. O PSTU e os sindicatos que influenciam procuraram, também de todos os modos sabotar a iniciativa, inclusive votando no comando contra a realização dos dois primeiros atos e participando apenas aparentemente do terceiro.
Estes atos são, na realidade, mais uma prova de que é preciso renovar completamente a organização dos trabalhadores dos correios e que os atuais sindicatos são nada mais nada menos que um obstáculo ao desenvolvimento da luta. 

Causa Operária - Como você avalia a ação do TST durante a greve?

Anaí Caproni – PT, PCdoB, PSTU e PSol levaram a greve para o TST, antes de tudo, porque o governo do PT mandou. Em tudo eles obedeceram ao governo. Era uma arapuca. Desde a primeira negociação, ficou claro que o comando deveria abandonar a negociação sob a arbitragem do TST, que constituía um jogo de cartas marcadas. O TST, logo de cara, deixou claro que defendia, sem qualquer argumento, a política da direção da ECT. Não denunciar diante dos trabalhadores este fato foi um dos grandes crimes do Bando dos Quatro contra a greve. Pelo contrário, alimentaram um respeito da categoria nesse covil que é o judiciário brasileiro. Política mais direitista seria impossível.
Alimentar a ilusão que o trabalhador naturalmente tem no judiciário, ou seja, no Estado do exploradores, é o pior crime que pode fazer um dirigente operário. O TST cumpriu o seu papel. Agiu sem qualquer disfarce como um instrumento patronal. Os juízes pisotearam a lei sem qualquer pudor. O presidente do TST passou por cima da decisão anterior do próprio TST de que os correios não eram serviço essencial. Depois procuraram forçar, até mesmo com ameaças a proposta da empresa, deixando claro que não estavam arbitrando, mas agindo como uma polícia da empresa. Agora, como falei anteriormente, estamos recebendo informações que vamos verificar que cortaram direitos adquiridos dos trabalhadores que constavam dos acordos anteriores. O julgamento, ao qual estive presente foi escandaloso, pela conduta totalmente sem qualquer formalidade jurídica dos ministros e pelas decisões arbitrárias e sem fundamento cuja única função evidente era servir aos interesses do governo. Este deve ser um ponto de grande debate no balanço da greve e creio que esta greve constitui o início de uma nova relação dos trabalhadores com o judiciário, ou seja, uma evolução da classe trabalhadora no sentido de se tornar independente da burguesia. Foi mais a confusão do momento e o medo do que um verdadeiro respeito pela autoridade dos juízes que foi o pivô para o encerramento da greve. Este fato marca uma importante evolução na situação política. 

Causa Operária - Os jornais e o próprio TST denunciaram a greve como greve política e apontaram o PCO como sendo o verdadeiro instigador do movimento. O que significa isso?

Anaí Caproni – Em primeiro lugar, está claro que são as tradicionais intrigas e calúnias da burguesia para indispor os trabalhadores com o setor revolucionário organizado da categoria. A greve não foi obra do PCO, mas da empresa que levou os trabalhadores ao desespero com um conjunto de duríssimos ataques aos salários e às condições de vida, em particular com a imposição do acordo bianual. Todos os trabalhadores sabem muito bem disso. A greve também não foi, como acontece sempre na lutas internas da burguesia, um pretexto para um ajuste de contas político que nada tem a ver com a greve, mas fruto da real necessidade dos trabalhadores.
O PCO, como partido operário, tem uma importante participação na organização do movimento, ainda mais quando é o único partido que se coloca de fato ao lado das reivindicações operárias. No entanto, na greve não defendemos nenhum interesse exterior aos interesses da própria classe operária e nossa oposição à burocracia nada mais é que uma defesa dos interesses dos trabalhadores, nada tem de particular.
O fato de que nos separam do restante dos partidos reflete uma realidade que não pode ser disfarçada. O próprio ministro Paulo Bernardo deixou claro que os sindicatos não eram interlocutores porque não representavam a opinião das bases, representada pela nossa política e que, conforme o jornal O Globo, o ministro teria dito que “do PSTU e do PSol para a direita é tudo pelego”, ou seja, a burguesia reconheceu o fosso que se abriu entre o aparelho sindical burocrático e a categoria e que do lado da categoria estávamos apenas nós como corrente organizada importante. Que esse fato saiu à luz desta forma mostra claramente a radicalização da situação e a evolução da consciência dos trabalhadores, porque isso é assim, de fato, há muitos anos, mas não aparecia na superfície.
No entanto, é preciso considerar a concepção sobre a base da qual são feitas estas intrigas da direita, que são também reproduzidas pelos partidos do Bando dos Quatro que se dizem de esquerda. Está claro que a burguesia considera que os trabalhadores não têm direito de defender os seus interesses econômicos no terreno político, não têm o direito de se organizar em partidos políticos, o que não devemos estranhar, uma vez que o TST e o PT, que dirige a ECT, deixaram claro que os trabalhadores não têm, também, direito de greve e nem de organização sindical. Segundo o que pensam os sindicalistas do Bando dos Quatro, nesta greve isso ficou claro, quando a justiça capitalista, patronal, burguesa e direitista fala, os trabalhadores calam. Se isso fosse verdade como querem PSTU, PT, PCdoB e PSol, não haveria sentido algum em ter sindicatos. Deveria ser como no Estado Novo, o governo fascista de Getúlio Vargas: o sindicato deve ser só para cortar o cabelo e obturar um dente. As reivindicações trabalhistas são exclusividade da Justiça do Trabalho. Isso mostra, inclusive, que a esquerda pequeno-burguesa não consegue se livrar da tradição direitista do seu próprio país porque é um reflexo em miniatura da sua própria burguesia.
Nós temos que explicar aos trabalhadores – que já estão começando a entender esta questão – que a classe operária não apenas tem o direito, mas tem a necessidade urgente e inadiável de ser organizar como partido político e lutar no terreno político e em todos os terrenos pelos seus interesses. A greve dos correios é automaticamente política por dois motivos. Primeiro porque é feita contra o governo e toda luta contra o governo, se for real, é uma luta política. Em segundo lugar, porque é uma luta contra o conjunto da política econômica do governo, de congelamento salarial e de privatização, meios com os quais os patrões, abrigados detrás da estrelinha dos traidores do PT, querem fazer com que os trabalhadores paguem pela maior crise do capitalismo que o mundo já conheceu até hoje. Esta luta coloca em pauta claramente não apenas o aumento salarial, mas em perspectiva a derrubada do capitalismo e o socialismo.

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